Capineiro de meu pai
Não me cortes meus cabelos
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira
Que o passarinho beliscou

Companheiro que passas pela estrada
Seguindo pelo rumo do sertão
Quando vires a a casa abandonada
Deixa-a em paz dormir na solidão

Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos no seio ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das mariposas que lá vão pousar

Esta casa não tem lá fora
A casa não tem lá dentro
Três cadeiras de madeira
Uma sala, mesa ao centro

Rio aberto, barco solto
Pau-d'arco florindo à porta
Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha morta

Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha morta
Aqui os mortos são bons
Pois não atrapalham nada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estrada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estrada

Nada, nada
A velha sentada, o ruído da renda
A menina sentada roendo a merenda
A velha sentada, o ruído da renda
A menina sentada roendo a merenda

Nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Aqui não acontece nada, não
Nada
Nada, nada
Nada, absolutamente nada
E o aguapé, lá na lagoa
Sobre a água nada
E deixa a borda da canoa
Perfumada
É a chaminé à toa
De uma fábrica abortada
Sobre a água ainda brilha
Este ar puro da alvorada

Nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Aqui não acontece nada, não

Nada, nada
Nada, absolutamente nada

Composição: Belchior / CASTRO ALVES / Raimundo Fagner Epigrafe