Caro amigo, te escrevo
Assim eu me distraio um pouco
Estou fazendo tratamento pros nervos desse mundo
Que tá muito louco
Desde que você foi embora
Tenho uma grande novidade
O ano velho acabou
E até agora nada muda aqui nesta cidade
A gente não sai de casa, mesmo por um bom motivo
Falando nisso
Cortaram as asas e o bico do meu paraíso
E nós ficamos calados por uma semana inteira
E o outro, quando resmunga, coitado!
Abre a boca e só fala besteira

Mas a televisão nos disse
O ano que virá trará uma grande transformação
E todos nós estamos a esperar
Serão três noites de luz
E o quanto mais não importa
Pois, cada Cristo descerá da cruz

E os gênios estarão de volta
E se terá comida sobrando em cada mesa
E até os surdos irão escutar
O que os mudos falam com certeza
E se fará amor, cada um como bem quiser
E cada rosa assumirá sua flor
Seja ela homem ou mulher
E, sem grandes distúrbios, alguns mitos sumirão
Serão, talvez, os espertos, cretinos
Cada qual de sua geração

Veja, caro amigo, o que eu te escrevo e te digo
E como estou contente de estar aqui com esta gente
Veja, veja, veja, veja
Veja, caro amigo, o que a gente tem que inventar
Para poder se gozar e continuar esperando
E, se esse momento passasse num instante
Veja, caro amigo, como é divino e importante
Que nenhum de nós estejamos

O ano que está chegando
Daqui a um ano será saudade
Eu estou lhe preparando esta grande novidade

Composição: