Ho
Vakwee

Deitados numa ilha
O dia vai morrendo e a noite aproxima
O pavor e amargura da morte me dominam
Enquanto que as estrelas menos simpáticas
Guardam as suas clarividências

Ouço o latir dos lobos
Noutra margem deste arquipélago
Amanheço numa floresta
Onde comes o que matas e matam-te
Para alimentares a natureza

As velas apagaram-se
Ninguém ilumina ninguém
Ninguém procura entender a escuridão
Coroando os olhos de quem quer ver
E ler a cerqueira desta floresta que
Tão injustamente inibe os prazeres paridos por um Deus

O vento soprou a luz que brotava antes
Das cinzas dos sonhos saturados
A bandeira caiu por de cima da insígnia da república
As crianças tão prematuras deixaram de acreditar
Num paraíso prometido após os quinhentos anos

As folhas cantaram o hino das promessas falhadas
Os cães procuraram a sombra do regresso
A chuva molhou à terra de tanto pecado
As cortinas da catedral murmuram pela fé
Que vai murchando a cada instante
Que os fiéis vão menos acreditando em Deus

Acordo numa rua, levanto-me
Atiro o meu olhar entre os cantos todos da cidade
A vela está apagada, o mundo todo desistiu de ser o mundo

Em seguida atiro o meu olhar para as nuvens brancas
Vejo uma borboleta com a cabeça forrada com um véu negro
E com uma expressão que manifesta, a falta da sua luz
Entre os cantos da terra

Composição: Clinton Matubacana