Avental de estopa branca um lenço na cabeleira
A solinge marca touro não respeitava tambeira
Sangue corria na folha nesta faca carneadeira
Que se mesclava com o bufo numa nuqueada certeira

Reluzia na fivela resíduos de sebo quente
Quando engraxava o sovéu com o boi que lhe viesse a frente
Dando de encontro com a morte pra deixar de ser vivente
Morria dando pataços bufando e rangindo os dentes

(A vida traz atropelos)
(Pra quem se topa com a sorte)
(O boi arrepia o pelo)
(Quando sente a dor do corte)
(Nunca fica pra sinuelo)
(Dando de cara com a morte)

Tirava o couro com jeito com calma e muita paciência
Pois nos abates de campo tivera grande experiência
Herança dos velhos troncos ao longo de uma existência
Conhecido nas estâncias por carneador da querência

Da tarca perdeu os contos da faca morreu o fio
Da chaira restou o cabo do candeeiro só o pavio
E clareou noites de ronda enfrentando chuva e frio
Quem foi carneador de tropa conhece o tal desafio

Composição: Luciano Rosa / Paulo Rocha