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Avesso

Jorge Vercillo

Nós já temos encontro marcado, eu só não sei quando
Se daqui a dois dias
Se daqui a mil anos
Com dois canos pra mim apontados
Ousaria te olhar
Ousaria te ver

Num insuspeitável bar
Pra decência não nos ver
Perigoso é te amar
Doloroso querer

Somos homens pra saber o que é melhor pra nós
O desejo a nos punir só porque somos iguais
A Idade Média é aqui
Mesmo que me arranquem o sexo
Minha honra, meu prazer
Te amar eu ousaria
E você? O que fará se esse orgulho nos perder?

No clarão do luar, espero
Cá nos braços do mar, me entrego
Quanto tempo levar, quero saber se você
É tão forte que nem lá no fundo irá desejar

No clarão do luar, espero
Cá nos braços do mar, me entrego
Quanto tempo levar, quero saber se você
É tão forte que nem lá no fundo irá desejar

O que eu sinto, meu Deus, é tão forte, até pode matar
O teu pai já me jurou de morte por eu te desviar
Se os boatos criarem raízes
Ousarias me olhar?
Ousarias me ver?

Dois meninos num vagão e o mistério do prazer
Perigoso é me amar
Obscuro querer
Somos grandes para entender, mas pequenos pra opinar

Se eles vão nos receber, é mais fácil condenar
Ou noivados pra fingir
Mesmo que chegue o momento que eu não esteja mais aqui
E meus ossos virem adubo
Você pode me encontrar no avesso de uma dor

No clarão do luar, espero
Cá nos braços do mar, me entrego
Quanto tempo levar, quero saber se você
É tão forte que nem lá no fundo irá desejar

No clarão do luar, espero, espero
Cá nos braços do mar me entrego
Quanto tempo levar, quero saber se você
É tão forte que nem lá no fundo irá desejar

Escrita por: Jorge Vercillo