Meu Sertão Acabou
Fui rever a minha terra
Com grande satisfação
Quando avistei a fazenda
Que triste desilusão
Já não era mais a mesma
Meu Deus que transformação
Tava tudo diferente
Quando lá voltei de novo
Já não vi mais o meu povo
Não era mais meu sertão
Não vi mais a cachoeira
Que era uma coisa rara
Porque já foi represado
O rio das piapara
Na estação lá da cidade
Trem de ferro já não para
Não vi mais os cafezais
A lavoura foi cortada
No meio das invernadas
Sobrou um monte de coivara
Não vi mais Sinhá Maria
Com seu vestido de renda
Nem Pai João benzedor
Com sua bonita tenda
Não vi os canaviais
Também não vi a moenda
O carro silenciou
Não geme mais os cocões
Apenas cinco peões
Tomam conta da fazenda
As colônias estão vazias
Já não moram mais ninguém
Aonde era lavoura
Hoje só boiada tem
Os homens donos do mundo
Fazem só o que lhes convém
Por causo da ambição
Meu sertão morreu aos poucos
Coração deste caboclo
Com ele morreu também
Mi Sertón se acabó
Fui a visitar mi tierra
Con gran alegría
Cuando vi la hacienda
Qué triste desilusión
Ya no era la misma
Dios mío, qué transformación
Todo era diferente
Cuando regresé
Ya no vi a mi gente
Ya no era mi sertón
No vi la cascada
Que era algo raro
Porque ya fue represado
El río de las piaparas
En la estación de la ciudad
El tren ya no para
No vi los cafetales
La cosecha fue cortada
En medio de los potreros
Quedó un montón de leña
No vi a Doña María
Con su vestido de encaje
Ni al Padre Juan, el curandero
Con su bonita carpa
No vi los cañaverales
Tampoco vi el trapiche
El carro se silenció
Ya no suenan los azotes
Solo cinco peones
Cuidan la hacienda
Las colonias están vacías
Ya no vive nadie
Donde había cultivos
Hoy solo hay ganado
Los hombres dueños del mundo
Hacen lo que les conviene
Por la ambición
Mi sertón murió poco a poco
El corazón de este campesino
Murió con él también
Escrita por: Orlando Martins / Vieira