Como num quadro campeiro
De um tempo que já se foi
Um estranho carreteiro
Vai picaneando seus bois

Mas é somente ilusão
Para o sorriso dos outros
O que é ofício e razão
No olhar parado do louco

Foi carreteiro o avô
Seu pai, tropeiro e peão
E retirante depois
Já sem valia e sem chão

Campanha, estrada e cidade
Minguada changa dos días
Carroça, frete, saudade
Cacimba de almas vazias

Por isso o louco que toca
Bois de sonho na calçada
É o mesmo avô que assim volta
A cruzar léguas de estrada

E é o mesmo pai que um dia
Perdeu do olhar o seu brilho
E em tropas de fantasia
Compreende o ofício do filho

Composição: Alessandro Gonçalves / Marco Aurélio Vasconcellos / Martim César Gonçalves