Filho, sou teu pai, sou teu amigo
Por isso escuta o que eu digo
Minha experiência é quem fala
Melhor aprende o que cala
E ouve com atenção
Esse destino de peão
Não te vou deixar de herança
Porque me sobra esperança
De ver-te um dia patrão

Filho, meu velho também foi peão
Que acostumou-se ao patrão
Politiqueiro e caudilho
Por sinal, pai de um filho
Que, à força, se fez doutor
E eu, na solidão do meu rancho
Só aprendi a fazer garranchos
Pra votar nesse senhor

Filho, agora é chegada a hora
De saíres campo afora
Rumo à estância do saber
Que este teu velho peão pobre
Há muito que junta uns cobres
Pra te mandar aprender

Anda, vai e doma a leitura
Te amansa em literatura
E prende no laço a ciência
Que ao longo de tua ausência
Hei de rezar ao senhor
Pra que voltes à estância
Um verdadeiro doutor

Composição: Kenelmo Amado Alves / Marco Aurélio Vasconcellos