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Guri

Oswaldir e Carlos Magrão

Guri

Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse
Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada e o meu livro querer ler
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer Bis
Quero gaita de oito baixos pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete e esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe sai igualzito ao pai
E se Deus não achar muito tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe deste rancho onde nasci
Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui

Guri

De las ropas viejas de papá quería que mamá hiciera
Una maleta de cuero y un pantalón bombacho y me diera
Quería boinas y alpargatas y un perro compañero
Para ayudarme a llevar las vacas a mi pequeño corral
He de tener una tablita de multiplicar y querer leer mi libro
Voy a aprender a hacer cuentas y escribir alguna carta
Para que la hija de Don Bento sepa que ella es mi amor
Y si no está por escrito, no me animo a decirlo
Quiero un acordeón de ocho bajos para escuchar el sonido que sale
Botas hechas en Alegrete y espuelas de Ibirocai
Pañuelo rojo y cinturón comprados en Uruguay
Para que cuando pase digan que soy igualito a papá
Y si Dios no considera demasiado todo lo que pedí
No permitas que me separe de este rancho donde nací
Ni me despiertes tan temprano de mi sueño de niño
Y de yapa, permite que nunca me vaya de aquí

Escrita por: João Batista Machado / Julio Machado Da Silva Neto