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Lamento Nordestino

Cláudio Nucci

Choro Nordestino

quando esse povo nordestino chora
nem do olho não lhe aflora um fio d'água pra molhar a mão
sua mágoa é seca que nem o sertão
na cacimba rude que cavou no chão
do seu coração

quando esse povo nordestino chora
até do solo da viola sai poeira
sai desolação
som de enxada em pedra é o timbre desse som
som de caburé
grito de gavião

voz de carcará
zunido de facão
mistura de cordel, cangaço e procissão
gemido de mulher, vôo de arribação
ronco de barriga, guincho de pulmão
guizo de cascavel
rodamoinho no couro do gibão
lamentação
choro nordestino é só lamentação
ponteado pelo gargalhar do cão
é muito mais cruel a dor desse cristão
por isso dói mais fundo quando o povo nordestino chora

é feito corte de mandacaru no braço
e essa ferida se estancar com sal
é feito em talho dado com facão de aço
cuspir veneno de cobra coral
é feito o pé do cidadão criar inchaço
e por na bolha a brasa de um tição
é feito carregar no peito um estilhaço
da bala do rifle de lampião

Lamento Nordestino

cuando este pueblo nordestino llora
ni una lágrima brota de sus ojos para mojar la mano
su dolor es tan seco como el sertón
en el pozo rudo que cavó en la tierra
de su corazón

cuando este pueblo nordestino llora
incluso del suelo de la viola sale polvo
sale desolación
sonido de azada en piedra es el timbre de ese sonido
sonido de caburé
grito de gavilán

voz de carcará
zumbido de machete
mezcla de cordel, cangaço y procesión
gemido de mujer, vuelo de arribación
rugido de barriga, chillido de pulmón
cascabel de cascabel
remolino en el cuero del gibao
lamentación
el llanto nordestino es solo lamentación
entremezclado con la risa del perro
es mucho más cruel el dolor de este cristiano
por eso duele más profundo cuando el pueblo nordestino llora

es como un corte de mandacaru en el brazo
y esta herida se detiene con sal
es como una herida hecha con machete de acero
escupir veneno de cobra coral
es como el pie del ciudadano hinchado
y poner en la burbuja la brasa de un tizón
es como llevar en el pecho un astilla
del disparo del rifle de lampião

Escrita por: Cláudio Nucci / Paulo César Pinheiro