395px

Mourão Quemado

Luiz Faria e Silva Neto

Mourão Queimado

Quando ainda era criança, numa noite do passado
Eu vi um clarão de fogo lá na mata do cerrado
Meu pai falou:-Não se assuste é algum mourão queimado
Que restou de uma fogueira no preparo do roçado
Pode parecer bobagem eu lembrar coisas assim
São pequenas grandes coisas que guardo dentro de mim
Na fumaça dos meus rastos por dezenas de verões
Deixei longe aquele fogo
Na distância dos sertões.

Mourão queimado junto aos sonhos de um menino
No cerrado do destino se fez cinzas como eu sou
Cinzas do tempo na fogueira da lembrança
Eu sou cinzas da criança
Que o passado conservou.

Pelo cipoal da vida num sertão que não tem fim
Vim vivendo e vim morrendo
Vim buscando alguem pra mim
Este amor que eu procurava logo assim, que eu encontrei
Entre as chamas traiçoeiras dos seus olhos me queimei
Sou mourão esfumaçando como aquele do roçado
Que eu vi, quando criança lá na mata do cerrado
Só que aquele incendiou-se pelas mãos de um lavrador
E eu fui incendiado pelas chamas do amor

Mourão Quemado

Cuando aún era niño, en una noche del pasado
Vi un destello de fuego en el cerrado
Mi padre dijo: -No te asustes, es algún mourão quemado
Que quedó de una fogata en la preparación del terreno
Puede parecer una tontería recordar cosas así
Son pequeñas grandes cosas que guardo dentro de mí
En el humo de mis rastros por decenas de veranos
Dejé lejos aquel fuego
En la distancia de los sertones.

Mourão quemado junto a los sueños de un niño
En el cerrado del destino se convirtió en cenizas como yo soy
Cenizas del tiempo en la fogata del recuerdo
Soy cenizas del niño
Que el pasado conservó.

Por el enredo de la vida en un sertón sin fin
Vine viviendo y vine muriendo
Vine buscando a alguien para mí
Este amor que buscaba, tan pronto como lo encontré
Entre las llamas traicioneras de tus ojos me quemé
Soy mourão ahumándome como aquel del terreno
Que vi, cuando niño en el cerrado
Solo que aquel se incendió por las manos de un labrador
Y yo fui incendiado por las llamas del amor

Escrita por: João Fortuna / Sulino