395px

Mulato Serafim

Wilson Paim

Mulato Serafim

Parido lá nos galpões
Entre pelegos e arreios
Umbigo cortado a faca
Atado sem muito asseio
Serafim, a Deus-dará
Veio ao mundo porque veio

Sem eira, beira, sem nada
Deserdado dos brinquedos
Pitando do ressequido
Empessou o batente cedo
Não teve tempo pras letras
Foram escassos seus folguedos

Vassalo do sol a sol
Serafim, filho bastardo
Sua infância se fez homem
Brincando ao braço do arado
Aos gritos de pega-pega
Boi guri, boi desgarrado

Mistura de duas raças
Sovou tentos, foi guasqueiro
Muitas vezes peão por dia
Outras vezes peão caseiro
Transportou cargas de sonhos
Nas lidas de carreteiro

Esporeado pelo tempo
Implacável cavaleiro
Sofreu baguais sofrenaços
E no fim de seus janeiros
Vive negaceando changas
Sina de tantos campeiros

Vassalo do sol a sol
Serafim, filho bastardo
Sua infância se fez homem
Brincando ao braço do arado
Aos gritos de pega-pega
Boi guri, boi desgarrado

Mulato Serafim

Parido allá en los galpones
Entre peones y arreos
Ombligo cortado a cuchillo
Atado sin mucho cuidado
Serafim, un don nadie
Vino al mundo porque vino

Sin nada, sin nada en absoluto
Desheredado de juguetes
Fumando del tabaco seco
Comenzó a trabajar temprano
No tuvo tiempo para las letras
Fueron escasos sus juegos

Esclavo del sol a sol
Serafim, hijo bastardo
Su infancia se convirtió en hombre
Jugando al lado del arado
A los gritos de atrapar al otro
Niño de toros, toro desgarrado

Mezcla de dos razas
Trabajó duro, fue peón
Muchas veces peón por día
Otras veces peón en casa
Transportó cargas de sueños
En los trabajos de carretero

Azotado por el tiempo
Implacable jinete
Sufrió caballos salvajes
Y al final de sus años
Vive haciendo changas
Destino de tantos gauchos

Esclavo del sol a sol
Serafim, hijo bastardo
Su infancia se convirtió en hombre
Jugando al lado del arado
A los gritos de atrapar al otro
Niño de toros, toro desgarrado

Escrita por: Paulo Silveira / Rubens Fialho / Wilson Paim