Carta
Flavie
Não se acostume a mim tão fácil
Pode ser que uma hora ou outra eu embarque
Não tem uma razão
Não vejo um sentido
As vezes só desejo me jogar por esses trilhos
Tudo dói em mim em cada parte do meu dia
Eu sei, isso é uma forma horrível de se ver a vida
Meu relógio já parou e não tiraram a pilha
Minha mensalidade de futuro tá vencida
Eu tento não chorar
Já cumpri minha terapia
Todas possíveis que se possa imaginar
Mas caramba, já se passaram meses e eu nada
Respiro mais uma vez
Bebo outro copo d’água
Dessa vez, nem quetiapina me salva
Já são quase quatro horas
O tempo lá fora pede por mim e eu peço por ele
O meu corpo cintila, pintado de azul
Azul escuro que é pra lembrar do mar
Prometo te amar e não te esquecer lá
E quando eu desligar
Essas terão sido as minhas últimas palavras
Te escrevo com amor
Te falo o meu nome
E tudo que não te falei
Mas essa é minha última carta
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