
Chuva
Henry Burnett
Chuva na tarde é lenda nossa
Invade a cidade molhando as almas
Vai indo e vindo sem dito certo
Vai colorindo o rio dos insetos
Chuva de tarde nos escurece
O céu nublado vertendo espantos
Velhos caminhos pra novos versos
Velhos meninos não tão modestos
Chuva cenário dos mil amantes
Corpos sem culpa enfrentando a sina
Índios pelados tirando os ternos
Índios mulatos gozando o inverno
Chuva consagre nossas meninas
Lave a vergonha das pequeninas
Faça gozarem molhando os terços
Faça gritarem mordendo os beiços
Chuva memória dos que se foram
Vento zunindo nos olhos mouros
Molhados campos dos viradouros
Molhados somos todos tesouros
Chuva da tarde me encharque os olhos
Leve-me agora destino eterno
Lave a saudade que em mim navega
Lave essa vida que em mim se medra.



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