Cruzou Por Mim

Pasó por mí

Cruzou Por Mim

Pasó por mí, vino a encontrarme, en una calle del centroCruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da baixa
Ese hombre mal vestido, mendigo por profesión que se le ve en la cara,Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza conmigo y yo simpatizo con él;Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
Y recíprocamente, en un gesto amplio, desbordante, le di todo lo que teníaE reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(excepto, naturalmente, lo que estaba en el bolsillo donde guardo más dinero:(exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
No soy tonto ni escritor ruso, aplicado,Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
Y romanticismo, sí, pero despacio...).E romantismo, sim, mas devagar...).

Siento simpatía por toda esa gente,Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobre todo cuando no merece simpatía.Sobretudo quando não merece simpatia.
Sí, también soy vagabundo y mendigo,Sim, eu sou também vadio e pedinte,
Y lo soy también por mi culpa.E sou-o também por minha culpa.
Ser vagabundo y mendigo no es ser vagabundo y mendigo:Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
Es estar al margen de la escala social,E' estar ao lado da escala social,
No ser adaptable a las normas de la vida,E' não ser adaptável às normas da vida,
A las normas reales o sentimentales de la vida -'as normas reais ou sentimentais da vida -
No ser juez del supremo, empleado fijo, prostituta,Não ser juiz do supremo, empregado certo, prostituta,
No ser pobre de verdad, obrero explotado,Não ser pobre a valer, operário explorado,
No ser enfermo de una enfermedad incurable,Não ser doente de uma doença incurável,
No ser sediento de justicia, o capitán de caballería,Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
No ser, en fin, esas personas sociales de los novelistasNão ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se hartan de letras porque tienen razón para llorar lágrimas,Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
Y se rebelan contra la vida social porque tienen razón para suponerlo.E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

¡No: todo menos tener razón!Não: tudo menos ter razão!
¡Todo menos importarse por la humanidad!Tudo menos importar-se com a humanidade!
¡Todo menos ceder al humanitarismo!Tudo menos ceder ao humanitarismo!
¿De qué sirve una sensación si hay una razón exterior a ella?De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sí, ser vagabundo y mendigo, como yo soy,Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
No es ser vagabundo y mendigo, lo que es común:Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
Es estar aislado en el alma, y eso es ser vagabundo,E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
Es tener que pedir a los días que pasen, y nos dejen, y eso es ser mendigo.E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Todo lo demás es estúpido como un Dostoievski o un Gorki.Tudo o mais é estúpido como um dostoiewski ou um gorki.
Todo lo demás es tener hambre o no tener qué vestir.Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
Y, aunque eso suceda, eso le sucede a tanta genteE, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que ni vale la pena tener lástima de la gente a quien le sucede.Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Soy vagabundo y mendigo de verdad, es decir, en sentido figurado,Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
Y me estoy revolcando en una gran caridad por mí.E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

¡Pobre Álvaro de Campos!Coitado do álvaro de campos!
¡Tan aislado en la vida! ¡tan deprimido en las sensaciones!Tão isolado na vida! tão deprimido nas sensações!
¡Pobre de él, metido en el sillón de su melancolía!Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
¡Pobre de él, que con lágrimas (auténticas) en los ojos,Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Dio hoy, en un gesto amplio, generoso y moscovita,Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Todo lo que tenía, en el bolsillo en el que tenía poco aquel pobre que no era pobre que tenía ojos tristes por profesión.Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por profissão.

¡Pobre Álvaro de Campos, con quien nadie se preocupa!Coitado do álvaro de campos, com quem ninguém se importa!
¡Pobre de él que tiene tanta lástima de sí mismo!Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

Y, sí, ¡pobre de él!E, sim, coitado dele!
¡Más pobre de él que de muchos que son vagabundos y vagan,Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que son mendigos y piden,Que são pedintes e pedem,
Porque el alma humana es un abismo.Porque a alma humana é um abismo.

Yo sí sé. ¡Pobre de él!Eu é que sei. coitado dele!
¡Qué bueno poder rebelarme en un mitin dentro de mi alma!Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

¡Pero ni siquiera soy tonto!Mas até nem parvo sou!
Ni tengo la defensa de poder tener opiniones sociales.Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
No tengo, de hecho, ninguna defensa: soy lúcido.Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

No intenten convertirme en convicción: ¡soy lúcido!Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Ya lo dije: soy lúcido.Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas con corazón: soy lúcido.Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
¡Mierda! soy lúcido.Merda! sou lúcido.