Ventanias
Paulo Ciranda
Ela é muito linda
E vem quando finda
A tarde e ainda sem alarde
Fica para a noite
Abre e fecha as janelas
Da casa, cria asas, voa
Pousa, anda no meu peito
Não há jeito
Já perdi o direito de dizer não
Só sei dizer a palavra sim
E assim ela fica encantando por todo o dia
Qual melodia presa no ouvido
E já duvido que possa esquecer
De escutar um mar de gemido
Esculpido no olhar e não ver o luar
Que acende e apaga dentro em mim
Linda do princípio, até onde finda
Da raiz do cabelo ao chafariz
De águas do olhar
Bruxa ou fada
Tem o livro dos meus dias
E sabe que serei ventanias, ventanias
Bruxa, fada que pisa e se luxa
Na escada de cada arpejo
Beijo, desejo, sacolejo
Linda que faz de mim um barco
Pedra de atiradeira
Uma rasteira só pra lhe flutuar
E navegar
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