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Disscrente

AzoRap

Eu vi gente morta entre apertos de mãos
Algumas já estavam em estado de putrefação
Sem ouvidos pra ouvir, sem voz, cegos, fétidos
Vivendo todos os dias em seus infernos internos
Não entendem o óbvio, querem entender o espírito
Seria cômico, se não fosse profético
A voz da serpente ainda ecoa moldando consciências
Muitos caminham confusos entre a fé e a decadência

Configurados como máquinas, a serviço da mentira
À espera de um milagre, do fluir orgânico da vida
Em meio à multidão, fiéis fazem suas preces
Na busca incessante pelo pão que perece
O belo discurso de paz suplantou o evangelho
Deus não passa de um serviçal onde quem reina é o ego
O engano se torna verdade quando o alvo são cifrões
Assim, vi templos se tornarem covis de ladrões

Ainda há quem oprima, abuse da fé de quem crê
E oculte a verdade pra que você não possa ver
Há quem, pelas moedas, traia seus próprios irmãos
E quem proclame a Jesus curvado a mamon
Lobos, cães, porcos, salteadores, joio
Negaram o autor da vida pelo ouro dos tolos
Eles estão em nosso meio, sim, eu vi
Não diga que você não viu, é pecado mentir

Amor, paz, prosperidade jorram de seus lábios
Mas seus atos, na prática, não passam de escárnio
Vi gente liberta da mentira, do engano, do sistema
Bradavam liberdade, mas eram escravas de si mesmas
Vi se escandalizar com um gole de cerveja, fariseu
E o dito liberto que, de gole em gole, se perdeu
Assim, cada um prova do próprio veneno
E prova o quanto é tolice viver nos extremos

O beijo gay incomoda mais que o beijo adúltero
Quanta hipocrisia vinda dos nossos púlpitos
Religiosos roubam, abusam, mentem, absurdo!
E você continua ali: Cego, surdo e mudo
Eu ouvi o discurso forjado das almas vazias
E as promessas em nome de Deus que nunca foram cumpridas
Sem temor, sem tremor, sem cruz, sem luz
Insistem em subir ao púlpito sem Jesus

A adoração se tornou um produto do mercado
Quando deveria ser fruto de um coração quebrantado
Mudaram as cores e acenderam as luzes
Mas muitos continuam negando as suas cruzes
Não me limitem às suas tradições, rótulos e regras
Fui chamado pra viver o evangelho em sua essência
Proclamar o amor no chão da vida até que ele venha
Onde enfim seremos um e a morte só uma lembrança

Não me amarrem aos dogmas de suas linhas teológicas
Deus não é propriedade de ninguém
Jesus, o Cristo, é maior que achismos e fórmulas
O leão jamais será domado por alguém
Paz, se possível, verdade a qualquer custo
Repúdio aos que fazem da fé fonte de lucro
Têm fogo nos pés e na mente, grilhões
Iludem os incautos com sonhos e visões

Me responde: De quem é a culpa, me diga
De quem engana ou de quem acredita?
Aquele que não tinha onde reclinar a cabeça
Seria exemplo de derrota na igreja moderna
Me chame do que quiser: Desviado, descrente
Que se fechem portas, mas que se abram mentes
Essa track não tem feat, não tem refrão chiclete
É pra ouvir e refletir, quem sabe você se converte, irmão!

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