Velho Cantor
Carlos do Carmo
Eu sei que o teu isqueiro é talvez de contrabando
E a chama dos teus olhos já quase não se vê
Mas serás tu que acenderás as velas, para quando
Cantarmos noite fora o parabéns a você
Não sei que aniversários outrora festejamos
Em noites de boémia e cabeça perdida
O certo é que passados os tumultos, aqui estamos
Excepto alguns que a morte já levou de vencida
Velho cantor, foi também graças a ti
Que me fiz homem de cantar
Se a madrugada hoje me trouxe junto a ti
Foi para te abraçar
E tu, ferido da vida, por vielas trespassado
Olhando p'ró abismo que outros chamam miradouro
Permite que te lembre que cantavas bem o fado
E no fim gargalhavas mostrando um dente de oiro
Teu fado era feito pra se ouvir de muito perto
E eu arregalava os meus espantos de criança
Um peixe dentro de água, não estaria mais liberto
Por isso hoje navego com o teu leme na lembrança
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