Minha História
Fernando Mendes
Laiá, laiá, laiá, laiá
Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente
Laiá, laiá, laiá, laiá
Ele assim como veio partiu, não se sabe pra onde
E deixou minha mãe com olhar cada dia mais longe
Esperando parada, pregada na pedra do porto
Com seu único e velho vestido, cada dia mais curto
Laiá, laiá, laiá, laiá
Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse, assim, uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré
Laiá, laiá, laiá, laiá
Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
E a mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor
Laiá, laiá, laiá, laiá
Minha história e esse nome que ainda carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus
Laiá, laiá, laiá, laiá
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus
Laiá, laiá, laiá, laiá
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