Na Beira do Aguapey
Luiz Carlos Borges
Os ventos que ventam soltos
Por sobre o Aguapey
Reviram águas e areias
Tapé de artérias e veias
Do universo guaraní
E na lonjura estirada
Avaretá, tempo imaguaré
Pelas ranchadas paisanas
Vagam soluços de Ossanas
De Angüera e Pai Avaré
E anda uma pena antiga
Chorando pelos juncais
Um pranto sabor a sal
Um responso vegetal
Que vai rio abaixo nos camalotais
Sobe do rio para o céu
Um som na voz das cachoeiras
E eu, pescador sozinho
Me vou silvando baixinho
Melodias canoeiras
O Sol tropical ardendo
Calor de meio-dia, hora dos tejús
O vento dorme nas ramas
Na costa brilham escamas
De piavas e pirajús
Sentado só na barranca
Enraizado, pensando em ti
Eu isco recuerdos suaves
Ouvindo o trinar das aves
Na beira do Aguapey
E me sinto um guayaki
Vagando pelos juncais
Murmurando uma prece
Que, como este canto cresce
E vai rio abaixo nos camalotais
Sube del río hasta el cielo
Un sonido de cascada
Y yo, pescador solito
Me voy silbando bajito
Mientras, bajo la jangada
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