
Tarde
Naeno Rocha
A tarde estava cinza e feia,
Oscilante em seu humor de tempo.
Entre o crispar das folhas sentenciadas,
Às sombras ligeiras e ardentes,
Iroconicamente posta sob a copa das árvores,
Da mesma forma como se concebera fossem,
Frias e acolhedoras.
Mas aquela tarde era desigual,
Uma tarde que veio enfear as outras.
Ninguém mais lembrava
Que existiam tardes belas,
Por causa daquela.
Imponderada, indesejável, chata.
E todos ficaram saudosos das manhãs,
Mas ela insistia em se demorar naquela tarde,
A tarde repulsiva e cinza, cinza de resto de fogo,
Que ainda fumegava,
E prometia ir ao tempo em que durasse o seu tempo,
E mais além,
Confundir a noite e meter-se adentro.



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