Retrato Crioulo
César Oliveira e Rogério Melo
No contraponto do tento e d'um par de ferro calçado
Um corcovo chacoalhado estremecia o terreno
Pegava o rumo do céu e, de lá, se revoltava
E, ali, no más, se topava co a perícia do moreno
Pala encarnado e um sorriso na fachada
E a pataquada sustentando a tradição
Vinha berrando aquele Alazão Tostado
Vinha meio debochado, bem sentado o Nego Dão
Fazia tempo que não se dava uma tora
Criolla do campo afora com força de terra bruta
Pelego grande, cincha forte e rédea larga
E um sombreiro palmo de aba que já fez casa na nuca
Foi quando alguém ergueu a voz de vereda
-Esfrega o pala de seda na cara desse encruado!
E só podia ginetear dessa maneira
Se era índio da fronteira e cria do Zé Machado
E só podia ginetear dessa maneira
Se era índio da fronteira e cria do Zé Machado
Era um retrato desses de botar em quadro
Um ginete, um aporreado e um resto lindo de dia
O Sol deitado no espinhaço do horizonte
E um vento manso em reponte, embalando as sesmarias
Era valente aquele Alazão Tostado
Que não frouxava o bailado por mais que viesse apanhando
E o Nego, Dão naquele entono de galo
Que, além de andar a cavalo, tinha o pai lhe amadrinhando
Foi quando alguém ergueu a voz de vereda
-Esfrega o pala de seda na cara desse encruado!
E só podia ginetear dessa maneira
Se era índio da fronteira e cria do Zé Machado
E só podia ginetear dessa maneira
Se era índio da fronteira e cria do Zé Machado
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