Manta Para Dois
Deolinda
Às vezes és bruto
Rezingão, tosco, inculto
Um insensível, um ingrato, um ruim
Rude e casmurro
És teimoso como um burro
Mas, no fundo, és perfeito para mim
Ás vezes, também, eu tenho o meu feitio
E sei que levo tudo à minha frente
E por essas e por outras
Quase que nem damos conta
Das vezes que
Amuados
No sofá refastelados
Repartimos a manta sem incidentes
Às vezes és parvo
Gabarola, mal-criado
É preciso muita pachorra para ti!
Cromo, chico-esperto
Preguiçoso e incerto
Mas, é certo, que és perfeito para mim
Às vezes, também, sou curta de pavio
E respondo sempre a tudo muito a quente
E por essas e por outras
Quase que nem damos conta
Das vezes que
Amuados
No sofá refastelados
Repartimos a manta sem incidentes
Às vezes, concedo
Que admiro em segredo
Tudo aquilo que não cantei sobre ti
Mas o que em ti me fascina
Dava uma outra cantiga
Que teria uma três horas pra aí
Às vezes, também, sou dada ao desvario
Mas vem e passa tudo no repente
E por essas e por outras
Quase que nem damos conta
Das vezes que
Amuados
No sofá refastelados
Com os pés entrelaçados
E narizes encostados
Já os dois bem enrolados
Brutalmente apaixonados
Repartimos a manta sem incidentes
(Pa-pa-pa-pa
Pa-pa-pa-pa
Pa-pa-pa
Pa-pa-pa-pa
Pa-pa-pa-pa
Pa-pa-pa)
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