S de Sertão
Emerson Romani
O sertanejo no tempo padece
Às ordens de cima, ele obedece
E acha que deus as vezes se esquece
Que a lágrima pra cair, de água carece
Se o lamento só a si coubesse,
Se ao menos uma gota houvesse...
Mas o azul a nuvem embranquece
E somente nunca encinzesse
O destino só o sol em sépia clarece
E o desejo sertanejo corta cerce
Sua virtude o horizonte aborrece
E na insônia seu sono perece
Esperava que do céu a chuva viesse...
Um canto triste seu pesar enaltece
A semente rompe a terra e não floresce
O clamor não ajudou a messe
Com o flagelo seu corpo esmorece
A carne a fome enfraquece
A alma ressecada, apodrece
A tristeza antes de matar, envelhece
Nestes nortes ninguém convalesce
O olhar seco, deveras falece
A parentela conformada se entristece
É a hora, que cavar alguém comece
A trincheira do tatu na terra cresce
Para bem, antes que ao céu regresse
Para são miguel a última prece
Em nome de deus, mais um corpo desce.
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