O Último Cantor
Evandro Camperom
Teu corpo é um continente atado ao tempo
Chão de cimento suspenso no ar
Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão do mar
Do cruzamento entre o dito e o não dito
Erguem-se esquinas pra ninguém passar
Passado a vida imitando a colina
Que roça a neblina e se deixa roçar
Levanta a barra da saia da noite
Toco as ilhargas largas do luar
Bebo a ciência acesa das estrelas
No livro líquido do teu olhar
Um rádio abandonado num andor
Toca baixinho uma canção de amor
Um cão urina sobre o som do rádio
E mata afogado o último cantor
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