Couraçado
Gustavo Deppe
Desmonto essa armadura
Forjada aos remendos
De pedaços colhidos do chão
Mais vale arder nu ao relento
Que se escorar numa carcaça de latão
É inútil lustrar esse escudo
Desprezando os espinhos que crescem
À revelia na pele
Que de mansinho nos adoecem
Na couraça criada à base de insulto e porrada
Só aquela primeira camada da derme que guarda
A parte mais pura, que não se fere
Desmonte essa armadura forjada aos remendos
Recusando o que te exigiu a razão
A ferrugem que te trava não é nada
Frente ao pequeno pedaço que pulsa- o coração
Feche os olhos, se envolva em trevas
Pra delas poder notar
Que há, largada em algum canto
Uma luz teimosa a se rebelar
Contra a couraça criada à base de insulto e porrada
Que pelas fendas e rachaduras, de dentro pra fora
Revela a beleza que deixa escapar
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