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20 de Setembro / Carnavalito / Chimarrita / Boi Barroso

Jayme Caetano Braun

Meu Brasil grande, fogão
De pátria e de nativismo
No bárbaro catecismo
Do meu Rio Grande pagão
Hoje a indiada deste chão
Tem o seu dia mais santo
E no amargo que levanto
Numa data como essa
Só posso pagar promessa
Com a pobreza do meu canto

Mateando nesse fogão pampeano
Hoje, no dia do farrapo, 20 de setembro
Num berro xucro de altivez ferida
O potro alçado sacudiu as crina
Tremeram bravos, soluçaram China
E a própria morte deu lugar à vida
Com violência irreprimida retumbando pelas grotas
Foram se adensando as notas num crescendo barbaresco
Era o hino gauchesco por mil gargantas entoado
Era a alma de um estado vibrando contra tiranos
Eram centauros pampeanos paleteando anseios grandes

Estremeceram os Andes, desembestaram oceanos
Corcovearam altiplanos ao plagor de ideias novas
Mortos saíram das covas
Abriram-se mausoléus
Anjos bombearam dos céus
Na terra em todos os cantos
Alvorotaram-se os santos interrogando o Senhor
De onde Pai esse clamor que chega em nosso infinito?

Eu já esperava esse grito
Que tardava o céu azul
É do Rio Grande do Sul
Parapeito do Brasil
Xucro e por demais viril
Para aguentar tirania
É a sagrada rebeldia do guasca que eu modelei
Calou-se o supremo rei
Pra encerrar com majestade
Eu já lhes dei liberdade
Eles que façam a lei

Mas se a pátria era só uma
Predestinada a ser grande
Porque os filhos do Rio Grande
Tudo, tudo era negado
Mal recebido e famado pela corte europeizada
Que dormia descansada indiferente à distância
A custa da vigilância que o reiograndense montava
Enquanto o norte orientava seu futuro, sua glória
Iniciando trajetória nos bancos de academia
No lombo das cesmarias o guasca fazia história

Mas um dia, há sempre um dia
A xucreza provinciana
Ergueu a voz soberana que inflamou-se e veia a furo
Correu sangue, ruro e puro destilado em campo aberto
De onde ia brotar por certo
A geração do futuro

Bandeira de 35, divino pendão de guerra
Que trazes gritos de terras
Entre as dobras andarilhas
Pano de altar das coxilhas
Desfraldados por condores
Prece rezada em trêz cores
Em sobrehumanos rituais
O verde e os campos gerais
Do Rio Grande despenteado
Um matambre amarelado, uma alvorada de outubro
E o campo vermelho ruro, um Sol de tarde sangrado
Troféu mil vezes sagrado, pátria encarnada num pano
Velho lábaro pampeano, muito mais do que fazenda
Fostes a primeira legenda do Brasil republicano

Pedaço de chão pampeano que nem teve donatário
Não servirás de sudário às tradições arruevas
Nem as glórias andarengas trançadas com fã
Hoje, ontem e amanhã, gaúcha mas brasileira
Jamais serás a bandeira de tiranos ou carrascos
Teu hino é o troféu de casco

É a velha gesta campeira
Que vem deixando uma esteira de nativismo e de fé
Desde que o Índio Sepé, monarca das reduções
Ficou santo ante as regiões de Capela e Portugal
E a república imortal de assistência ambulatória
Vai cortando trajetória e acampanhado aqui e ali
Primeiro é Piratini, velho reduto açoreano
Palanque republicano enraizado no chão
O legendário fogão aceso desde o principio
O mais xucro município que falquejaram no mapa
E a Caçapava farrapa gineteando as serranias
Ninho das águias bravias lá quase junto do céu
Tento do mesmo suvéu, ilhapa do mesmo laço
Tronqueira de cerne e aço, com cicatrizes de sonho
Berço de tigres heróis desde o primeiro piquete
E por fim, e por fim o Alegrete. Rebenque da mesma clã
Pagé do mesmo tupã das lendas continentinas
Que nasceu molhando as crinas no velho Ibirapuitã

E vão desfilando os tauras em comparável cruzada
Cujo anseio e cuja espada não tinham outro sentido
Do que um Brasil redimido pela coesão nacional
Tratamento humano igual a província morta viva
Essa era a intenção altiva dos guascas republicanos
Que escreveram por dez anos sua ideia federativa

Nariz da terra nativa nas alvoradas serenas
Tirintimtim de chilenas que se perdem nas quebradas
Bandeiras xucras hasteadas num simbolismo fiel
O pampa é um grande quartel do Jaguarão a Pelotas
Do mar as plagas remotas das missões do Uruguai
Filho lutando com pai, irmão combatendo irmão
Um trono contra um rincão que morre de pé e não cai

Sangue heróico que se esvai na mais dantesca catombe
Pra que amanhã ninguém zombe de um povo que está oprimido
E compreendo o sentido e o supremo sacrifício
De cada jovem patrício que morreu sem ter vivido

Roto das lanças da Azenha, Arroio Grande, Mostardas
Ponteando como vanguardas de potéis imortais
Pelotas, Campos de Deltrais, Passos Negros
De novo como afirmações de um povo que morre mas não recua
É o estoicismo charrua que o lusitano bebeu
É o guarani que desceu do Sete Povos em reuínas
É o Minuano que nas crinas dos fletes tras as bandeiras
São as figuras campeiras daqueles lanceiros negros
Reis em tronos de pelegos de valentia espartana
Que a causa republicana num arrepio de coragem
Vinham trazer a mensagem da raça pampa africana

E o vento tras os murmúrios das águas do Jaguarão
De onde o primeiro clarão libertário veio à tona
Escrita sobre a carona no mais sublime dialeto
A proclamação de Neto ao mundo inteiro emociona

É a província chimarrona que diz à pátria e ao mundo
Seu nobre anseio profundo de amor e fraternidade
Na velha espontaneidade da raça guerrida e forte
Que vai preferir a morte a viver sem liberdade

Seiva, clarim de ombridade na bovas americanas
Semente republicana plantada sobre as flechilhas
Que brotando das coxilhas onde a liberdade chove
Fará com que se renove outro 20 de Setembro
Lá por 15 de Novembro no ano de 89

Estandarte de centauro, belo, divino e galhardo
Santa Vitória, Rio Pardo, Ilha Pampa, Candiota
Na vitória e na derrota sempre um sinal de esperança
Hasteado num pau de lança ou num mastro de um navio
No pampa, no mar, no rio, legenda de legendário
Talismã de legionários, de Azenha, de Piratini

Hoje perduram em ti as façanhas de Tobias
Pastoreando águas bravias altaneiro e sobrehumano
E o velho barco minuano farrapo da poupa quilha
Que só contra uma plotilha vai morrer mas não se entrega
Porque em seu mastro carrega o pavilhão farroupilha

E lá está junto a família prendendo fogo ao paiol
Sublime gesto de escolpe que causa espanto e abalo
Até as águas ao tragá-lo cantaram retir de glória
Entronizando na história Tobias santo robalo

Lá longe, no Camaquã surge o vulto romanesco
O cenário gauchesco viera consagrar a vida
Garibaldi chegou a vê-lo mateando junto ao fogão
Na fraterna comunhão do chimarrão que nivela

Que estranha e xucra novela escrita a fogo e audácia
Quadas da velha dalmácia que o vento trazia ao sul
Mar verde no campo azul num contraste extraordinário
O terrível carbonário invejando o pendão farrapo
Porque fez daquele trapo seu talismã de corsário

Ei-lo centauro templário com bolhadeiras e lanças
Um misturado nas danças do maior desembaraço
Alí marcando compasso de uma polca paraguaia
Grudado ao rabo de saia que fosse do seu desejo

Chimarrita, caranguejo, lanceiro, quadrilha, anu
O piricom, o tatu, usados na campanha
A valsa e a meia canha, as polcas de relação
Ei-lo junto ao redomão, cuja xucreza não teme
Pois tem nas rédeas o leme que o conservarão no trilho
Nem lhe falta tombadilho de lã, corda ou gaviona
Pois tem baichero, carona, apero, sincha e lombilho

E os clarins seguem tocando, rumbiando o destino certo
E vão cortando deserto na direção de Laguna
É a carreteada turuna que bandeando alagadiço
Aos clarins das cidadis os quero-queros gritões
Vai cantar nas solidões ao tranco lerdo dos bois
A glória daqueles dois, Garibalde e Canabarro
Escrevendo a sangue e barro a epopéia dos lanchões

E a república Juliana surge na luz das manhãs
São as províncias irmãs pregando as mesmas mensagens
São os valentes de Lages e contraterraneos de Anita
Não é guerra de vindita nem a revolta incensata
Mas pátria que quer ser pátria não é só pátria bendita

E ali está Bento Gonçalves, herói nascido de herói
Fulgor de todos os sóis que iluminaram a raça
A glória que sentou praça e na glória foi mais glória
A história escrevendo história na terra que o viu nascer
Exemplo de honra e dever na mais pura trajetória

Pátria bentida essa nossa com filhos de tal grandeza
Homens de cuja nobreza se orgulha um país inteiro
E Bento Manoel Ribeiro, velha cepa bandeirante
Temperamento inconstante que a história não compreendeu
E Chico Pedro de Abreu o Moringue de ardis longos
E de uma feita em porongos surgindo meio de esbarro
Vai surpreender Canabarro vencendo a velha raposa

É Manoel Marques de Souza, audaz, combativo e sério
É Caxias o império da lei persolificada
É Andrade Neves de espada que escreve a glória de tantos
É Francisco Chagas Santos, é João da Silva Tavares
São nomes que andam nos ares arrepiando culminâncias
Trançando lidas de estâncias com legendas militares

Quem poderá separá-los hoje imperiais e farrapos
Se ambos andaram de trapos santificando cavalos
Se ambos só foram vassalos de anseios, não de monarcas
Se nunca tiveram marcas ou sinais de mossa ou brinco
Feitores de igual afinco da história eterna e serena
Um foi o sangue, o outro a pena do hino de 35

Bandeira de Ponche Verde na última ação de um libelo
Lembras o verde-amarelo desfraldado por Caxias
Frente a frente as rebeldias do teu pano tricolor
Filho que não quer tutor, mas sim carinho de pai
Filho altivo que não trai mas que exige compreensão
Traços da mesma feição, folhas do mesmo caderno
O amor filhalho materno no mesmo abraço reunidos
Arrogantes mas vencidos pelo carinho paterno

Bandeira de 35, divino pendão de guerra
Que guardas gritos de terras
Entre as dobras andarilhas
Pano de altar das coxilhas
Desfraldados por condores
Prece rezada em três cores
Em sobre humanos rituais
O verde e os campos gerais
Do Rio Grande despenteado
Um matambre amarelado, uma alvorada de outubro
E o campo vermelho ruro, um Sol de tarde sangrado
Troféu mil vezes sagrado, pátria encarnada num pano
Velho lábaro pampeano, santificado na história
Hoje é relíquia de glória do Brasil republicano

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