Gaudério
Luiz Marenco
Na estância, toda a semana
Campereei de Sol a Sol
E, hoje, sábado, com gana
Me corto a ver a tirana
Com duas braças de Sol
No zaino negro galhardo
Abro o pala em cima da anca
E a larga bombacha branca
Sobre a badana de pardo
Fogoso, o pingo estradeiro
Sabe onde vou e onde vai
E segue barbeando o freio
A galopito no más
Nas quebradas e coxilhas
Nas canções das sangas claras
Estão pedindo silêncio
Para os rufos do meu lenço
E o alvoroço do meu pala
Sobe dos pastos do chão
De toda quieta a querência
Um cheiro fino de essência
Chinoca e manjericão
Chego enfim à paisanita
Diz-me adeus no pingo mouro
Com a graça fina e esquisita
Que hay na flor do cinamomo
E, no aconchego do rancho
Dentro da noite invernal
Paira o campeiro perfume
Da flor guaxa entre o xircal
Cai geada, o flete relincha
Tranqueando a soga, arrepiado
Olho a noite pela frincha
Inté o silêncio é gelado
E um frio que ninguém se arrima
Que hay inté noites daquelas
Neve qualhada lá em cima
E na pocita das estrelas
E os nossos peitos amantes
O ar parece que corta
Como os fogões nos andantes
Acesos na noite morta
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