Poética
Raco
Agora é do atrito entre os pés e o chão
Que eu tiro a minha música
Mas é do atrito de pés dançando
Coreografias que não desencadeiam
Primaveras nem precedem a chuva
Eu já dormi e acordei muitas vezes
Não posso me embriagar só de pão, peixes
Boas colheitas e flores recém-colhidas
Sobre a mesa posta
Quero o veneno que a manhã verte
Nos olhos do cego
O vermelho encarnado
Que não atrai touros
Nem paralisa automóveis
Quero um misto de voo e queda
O fôlego morto de uma dança
Que sobreviva à música
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