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Marreta Juliana

Sergio-SalleS-oigerS

Com desprezo
Me agarro
Ao cadáver
De minha mãe
Caído, ali no chão
Dividindo espaço
Com tantos outros corpos
Chacinados pela mesma mão
Que não há muito tempo
Com beijos ela abençoou
Entregando seu coração
Ferido
Por um filho
Que à beira de seu caixão
Suas joias particulares
Saqueou

Dentre suas joias particulares
Se encontrava
Um Hierofante de marfim
Talhado por mim
Enquanto o réu se escondia
Atrás do vidro maternal
Estampado no funeral
A lágrima de alegria
Escorria pelos braços do cortejo
Sob velas
Transcendentais
E quentinhas
De carne-de-sol com jerimum
Preparadas
Por mamãe
Pouco antes de eu matá-la
A marretada

Minha marreta Juliana
Só ela me entende
Não faz nenhum drama
Minha marreta Juliana
Minha amada, minha cúmplice
Minha dama

O terror!
O terror
De quem nunca se arriscou
A nadar na banheira
Pra mergulhar
Na língua da ribanceira
A testemunhar seu início
No fim da vida de alguém

O terror!
O terror!
O amor!
A testemunhar seu início
No fim da vida
De outra pessoa

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