Ser Humano
Toninho Borbo
Sou o choro da menina
Surrada na praça
A nuca do mendigo
Aberta a pedrada
Projétil em disparada
A garganta do homem
No gume da faca
Sou a morte instantânea
Naquela batida
A língua do cachorro
Na ferida aberta pra vida
Que sempre se encontra
Deitada na mesma esquina
E a cuia treme
Gente geme
E a gente nem repara
Ta tudo a nossa frente
Fato a fato
Cara a cara
Cala a cara
Sou o corpo alvejado
Por bala perdida
A partida no tempo
A luz no rebento
Mais um barriga vazia
E mais valia a idéia
Ser teta a pra burguesia
Sou a farsa fatal
Imersa na sutileza
Um gesto delicado
A garra afagando
A presa
Sou a quimera real
Da tua falsa beleza
Sou o ser humano
Engano do próprio Deus
Eu deveria andar rastejando
E a serpente criar asas pra o céu
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