Filho do Pecado
Gil Lucas
Uma borboleta branca posou em meu ombro e eu arriei
Uma bala de canhão me acertou em cheio e eu nem notei
Vago pelas ruas com o coração quebrado, mas a pose é de rei
E se assim, de repente, fosse o mundo mudando?
E na presença do ausente, nós andássemos sonhando?
E se essa loucura crescente não causasse espanto
E tornasse normal tanta gente rindo do seu próprio pranto?
Voltei, sobressaltado de uma realidade viscosa onde sonhei
Estar mais pela proza que pelo poema que eu havia amaldiçoado
O peso da família, frágil, trôpego e cambaleante eu carreguei
Com a cara deslavada e nobre, própria a um filho do pecado
E se em falta do amor decente nos pegássemos cantando
Uma canção tão doente que até calada continua gritando?
E se lêssemos friamente o que eu escrevo rimando
Poderíamos conter lentamente o que está em nós, delirando
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